quarta-feira, março 11, 2009
António Vieira
terça-feira, março 10, 2009
Juntos por Loro Sae
Em Timor, Timor Lorosae
Pedro de Castro Lis
I
Vejo
rostos cansados
sulcados
por lágrimas sem sal
abandonados
casados
com provação.
Futuros
confinados
entre montes
de escassos
horizontes
sem família
sem pão.
Vejo
Irmãos a morrerem
sob a ira inclemente
naquele ermitério
de solidão
sós, impotentes
de não terem casa
para terem nação.
Irmãos a fugir
subir pedra a pedra
pelo verde musgo
de que são vestidas
sedentos da água
das lágrimas vertidas
sempre persistentes
sempre sem mágoa.
Irmãos a descer
em busca da pátria
em confiança
e com esperança.
Irmãos alcançarem
com cósmica energia
o sonho da partida
no próprio encontro
no cimo da descida.
Na direcção da autora
Doutro novo dia
II
O que se verá
a partir de agora?
Incógnitos futuros
entre montes e mar
daqueles irmãos
sempre a lutar…
Sós, porém imbuídos
da firme certeza
que lhes restará para sempre
a língua portuguesa
Obscuros mistérios
que se devem sondar:
- Advirão sortilégios?
- Advirão refrigérios?
Responde-se que sim;
- se se buscar o sol
- se se salvar o amor
O Sol nascerá
e mais ninguém morrerá
Na querida Timor
Em Timor Lorosae
9 de Outubro de 1999
segunda-feira, março 09, 2009
Testemunhos
I
A Tua Face
a Ricardo Marques
(Médico sem Fronteiras, desaparecido na Somália)
“in memoriam”
Olhar luminoso.
A inundar
Os campos da face.
Sorriso
Sentido.
A transbordar de néctar,
De gotas de vidro,
O grande cálice.
Partido.
Lágrimas e gotas
Derramadas
Quando os olhos cerraram.
E todos os teus campos secaram.

II
As Tuas Mãos
As tuas mãos
Disseram tanto
Do coração!
Pintaram poemas,
E escreveram paisagens!
As tuas mãos
Anularam penas
E deram calor
Ao sofredor.
A tantos aliviaram a dor.
As tuas mãos
Dedilharam canções
E pacificaram emoções.
As tuas mãos
Afagaram amores
E acariciaram vidas que aparaste.
As tuas mãos
Disseram tanto
A quem amaste.
As tuas mãos…
Quem me dera tocá-las
- Às tuas mãos –
ARTISTA, POETA, DOUTOR!
As tuas mãos
Sublimes…
Diziam tanto do teu coração.
quarta-feira, março 04, 2009
para além do rio

O Sol Sorri
Acorda, meu amor!
Olha os cumes nevados lá na serra.
Escuta o vento nas folhas dos carvalhos.
Sorve a brisa do seio da minha Terra.
Neles me encontrarás!
Sempre
Alberto José "Lírios e cerdeiras"
Saudade
Na alma cai o verso.
E da pétala o orvalho.
Orvalho e alma são mágoa.
Verso e pétala
voam
ao teu encontro.
Chego ao campo sagrado
Onde repousas e, como por encanto,
Sinto o teu vulto, ouço o teu canto,
Avó, que a morte me há levado.
E tudo se transforma em ti:
Na tua voz, no teu conselho,
No teu cuidado, na ternura do teu olhar.
Curvo-me, choro e na terra ajoelho.
Por ser em Ti crente.
Que pena não saber rezar!
Pai
As cerdeiras estão nuas.
As folhas caíram
Como lágrimas
E entapetam
E amaciam os teus passos.
Que saudades, Pai.
Dos teus conselhos.
Dos teus abraços.
Dos teus anelos.
Da tua voz.
Do teu riso.
Que sempre ecoam
Em cada folha
Que piso.
São tantas as saudades, Pai,
Que, para minorar as penas,
Caminho horas sobre a folhagem,
A dizer-te poemas.
Sobre nimbos de alvas névoas,
Debruçado sobre a Paiva,
Abracei um arco-íris.
Colhi-o.
Fi-lo só meu.
E com ele enlacei
A rosa branca que levava
Aos teus cabelos negros
Como a noite.
Mas a chuva caiu
Pelos caminhos.
E o arco-íris desfez-se.
Mergulhei, na escuridão.
E senti frio,
Muito frio.
Até que chegou a madrugada
Diáfana e pura,
E vi pétalas brancas voando ao vento.
… Se pudesse, dava-te um rio…
Cereja Carmim
Quero que guardes nos lábios
O sabor das cerejas,
Para darmos
Beijos vermelhos
De trespassado carmim,
- Com fragrância de feno e terra arada - .
E, desatando os rios que sustemos,
Colhermos lírios lilases,
Voarmos sobre as cerdeiras,
De mãos dadas
… em viagens aladas.
Partitura Cerejas Carmim


Adolpho morre.
Mas ele voltou!
Rocha
Que em MIGUEL se tornou.
Está parado, agora.
Mas não silenciado.
Traz a urze lilás ao peito.
Naquele lugar onde brincou.
A contemplar
A grandeza do TORGA
Que criou!

Federico
ao poeta Ségio Gerônimo
Tu e Cervantes
Disseram de Góngora
O que eu penso de Ti:
“Es aquel agradable, aquel bienquisto,
aquel agudo, aquel sonoro y grave
sobre cuantos poetas Febo ha visto.”
Garcia
“O eco do teu grito
va de monte
a monte.
Desde los olivos
será um arco íris negro
sobre la noche azul.
¡ Ay! … ”
Lorca:
Serafins
-Não sei se os aceitas… -
Tocam trombetas
Pelos vales sem fim.
Anunciam desditas:
Um acto torpe
Final.
Todos te pensam.
Todos te choram.
Silêncio total.
Silvam as balas.
O dia escurece.
O teu corpo esmaece…
Tombaste.
Para o chão de Granada,
A rosa vermelha
Largaste.
Da mão.
No chão de Granada
Tu e a rosa,
No chão.
Tu, inteiro, nu.
a Agostinho da Silva, filósofo.
Calmo. Livre. Sereno.
Não tinha sequer
Cartão de contribuinte.
Ou documento qualquer.
Da quantidade
- Que eu também detesto –
De inócuos indivíduos,
Com cartões de papel pardo,
Onde eu também estou.
Penso que foi feliz.
E que essa realidade
Lhe bastou.
Por não ter sido contado
Entre os escravos
Que também sou.
Fui parido na Montanha.
Num casulo entre horizontes
De altas cumeeiras
Nevadas.
Pinchei sobre fragas e penedos.
Tomei o gosto da carqueja
Do tojo, da urze, da giesta.
Bebi a água cantante
Dos córregos e das
Levadas.
Vagueei por outros mundos.
Por longínquos horizontes.
Mas certo é ser nestes montes,
De granito,
De xisto,
Que existo.
E quando medito,
Homem,
Português
E vagabundo:
Vejo-te, Torga,
Do tamanho do Mundo.
Alfredo Baptista e Arménio Vasconcelos "Monumento a Torga"
Regresso à Fontinha
ao Tio Alfredo
(filho da Maria da Fontinha)
Fugi hoje da cidade e vim ao monte
Matar tantas saudades de criança.
Aqui me acenava um Arco da Aliança,
Entre o agora e o então, como ponte.
Chegado, corri ao “Fragal” e à “Covinha”
Como se fosse jovem que não se cansa.
Saltei vales, fragas, regatos, na esperança
De mitigar tanta sede da Fontinha.
É daqui que escrevo. E toda a água,
Juntinha à que me cai de tal mágoa,
À minha ressequida boca, sedento, levo-a.
Fazendo com minhas mãos um pucarinho.
Todo eu sou tojo, urze, giesta, rosmaninho.
Adeus cidade… já só és bruma e névoa!.
Carlos Reis "Casa cimeira da Fontinha com cerdeira"
Em Delfos
para Elvira e Armando Jorge
Na Fonte Castália me purifico.
Ao longo da Via Sagrada,
São audíveis arfares
De deuses anafados.
Suores escorrendo
Por frontes desnudas.
Apolo presente!
Um halo contorna os montes
Uma águia voa ao acaso
E grava do Parnaso
Urzes, águas. Fontes.
Pítia sibila-nos
Respostas labirínticas
Que lê nos densos vapores.
No Estádio, multidões
De toda a Hélade
Aclamam os seus vencedores.
Tudo cheira a frutas e a mel
De Mileto
A luz é de lírio que no caso esmaece
Do pó das corridas os atletas se livram
O meu “laurus nobilis” beijo e agradeço.
Na Fonte Castália me lavo, bebo e converso
Na Fonte Castália
Purificado, por fim.
A Delfos
Digo adeus.
Parto
Para sempre
Voltar
a Sophia de Mello Breyner Andresen *
Neste lajedo
Milenar,
Solta-se-me a imaginação
E o poema.
*Que sobem em passo certo
Por todos os degraus.
Ouvindo o eco da alma,
Voo para o alcançar
Até ao alto do céu,
Onde,
Músicas sublimes,
De flautas e liras,
Se casam
Com palavras sagradas,
Clássicas, antigas, gastas e vivas.
E ouvem-se tão bem!
que espero
O eco do eco…


No Fim da Viagem
(…da minha viagem…)
No fim da viagem
- Do tempo e do espaço -
Deixarei de escrever versos
Diversos, dispersos
- Às vezes adversos –
Como agora faço.
Ouvi-los-ei cantados
Pelos ventos, na aragem
Que tocará nos telhados
De lousas casadas
De todas as casas
Da aldeia inteira
- Em todas as noites de todos os dias -
No fim da viagem
- No fim desse tempo e de espaço tão certo -
Com um sorriso eterno
Versos ouvirei do lume da lareira
Com um manto coberto
Todo escondido
Entre flores de cerdeira.
segunda-feira, março 02, 2009
na Hélade em busca do passado
Dodona
Ainda se vêem as colunas
Erectas e intactas
De há tantos sóis.
E derramadas
Em ordem e na desordem
As artes
E as armas,
De tantos artistas
De tantos heróis.
Perfumadas ervas
Silvestres
No chão dos carvalhais
Adornam
As bases de colunas caídas
Pela ignorância dos homens
E pela força dos temporais.
De flores faço uma coroa,
E espero
Que sobre a pedra lavrada
Apareça o atleta
Dela merecedor.
Passaram já tantos sóis…

Meteora
Vacilo entre a luz e a sombra
Entre o real e o sonho.
Não sei o que é e não é.
Só sei que é belo!
E isso me basta
Para seguir em ascese.

Antínoo
O raio de sol penetra na vidraça
Do Museu
Onde paraste tu. E eu.
Incide a luz no teu peito,
Correcto, desnudo,
Sobre o qual pendem
Os anéis do teu cabelo.
Vê-se que foste esculpido
Com cuidado e desvelo
Para agradar ao amante
Senhor do mundo de então.
Adriano era forte, imperador
E não ocultava as tendências
Do seu amor
Por ti.
Provou-o mil vezes
Após a tua morte.
E desta sorte,
O teu peito e os teus cabelos,
Vejo por aí.
Aqui, ao teu lado, “omphalo”
É o centro do mundo.
E eu toquei-lhe,
Para me certificar
E poder agora descrevê-lo.
Adriano amou-te de verdade
No soturno da noite
E na ensolarada claridade.

No Parnaso
Quis subir a este monte
Olhar Delphos de nascente
Apreciar Tholos
E ouvir as muitas falas
De tantas gentes.
O vento fez-me a vontade
E cheirei a urze no Parnaso
Saboreando a brisa
Que vinha do mar.
É ali o “omphalo”,
Ponto onde o mundo se sustém,
Preso ao loureiro de Apolo.
E em tudo é ele quem manda
E tem.

Fim
A Pítia, em transe.
O ar pesado
As palavras altas e graves
A atenção cuidada.
Para o seu entendimento.
Sombras que perpassam
E deambulam – sente-se –
Entre as paredes do Templo.
O vento, o vento
Movimenta as folhas do loureiro.
Apolo está pálido
Pelo que responde o oráculo.
Foi a última resposta
A última pergunta.
Depois, as sombras totais.
A via sagrada solitária.
As respostas vêm agora de Roma.

Fonte de Castália
Sob o Parnaso,
A música da água
Ressoa
Nas pedras gastas
Das abóbadas das crateras.
Os cantares das “Castálides”,
Que chapinham e riem,
Soam a primaveras.
Sinfonia
Que sai
Dos fios que correm
A saciar sedes…
De quem chega
E de quem vai.
Para Ti Castália,
Por culpa de Apolo.
Em Delphos
Tantos séculos a trazerem prendas,
Jóias, cartas, artes, oferendas
De todas as partes da Hélade.
Tantos sacerdotes e sacerdotisas,
Tantos milhares de oráculos preocuparam
As orações das pitonisas em êxtase.
Tantas as vigílias, milhares os debates
E os cuidados ambíguos nas respostas.
Destas só uma, certa, lhes foi dada
Que tarde, muito tarde, compreenderam.
O oráculo agora era em Roma.
E vaticinava a partilha do mundo
Após tanto andar
Por tão variados mundos
Sou aqui chegado.
Ouço as histórias
As consultas
E as respostas da Pítia
As guerras
As derrotas e as vitórias
As honras
As desgraças
E as glórias.
Toco o centro do mundo
- O “omphalo” –
Umbigo, sem cordão,
Há muito cortado.
E nesse ponto,
Entre o nascer e o pôr,
Entre o sul e o norte,
Permaneço.
A ninguém cedo o lugar.
Para sempre ficar
Vivo
Mesmo na morte.
Por todo o tempo
Neste espaço.

No “Tholos”
Perante o “Tholos”
Fico quedo e cego
Alheado de tudo o que é real.
Só assim subo
No tempo
Ao Templo
Celestial.

Ruína
O silêncio do cipreste,
O rumor do carvalho,
A luz da oliveira,
O cheiro do loureiro.
Nada mais é preciso.
Basta uma coluna erecta
E pedras milenares
Espalhadas pelo chão
Para saciar
A sede e a fome,
Da magia do passado.
E ficar a conhecer
A história de todas as histórias.
….
Melhor ainda,
Se uma flor estiver aberta
E se um bando de pássaros
Aqui aprendi com Athena
A plantar a oliveira
Que deu óleo para alumiar o mundo.
Como o sol…

Sócrates
Por ser enorme no carácter
E na modéstia,
Sem sequer saber escrever,
- Teve discípulos, não para ensinar
Mas para aprender -,
Nunca morreu.
Não o matou a sicuta,
Pois vejo-o ali
A passear
E a conversar
Na democracia filha da puta
Desta outra (pretensa) Atenas.
E assim há-de continuar.

Na Ágora de Atenas
Aqui vesti minhas túnicas
De cor púrpura.
Raspei a barba hirsuta
Dos longes.
Desenrolei códices de
Indecifráveis idiomas
E ouvi as palavras
Doutas e profusas,
Dos sábios.
Era o V século
Cume do pináculo do saber.
Tudo adornado pela Arte.
Nomes para quê?
Eram tantos
E ainda hoje os repetimos.
Só eu volto como cheguei:
Sem púrpura, com barba, sem
Códices e sem aprender nada,
Que eu saiba.
O meu deus é porém Sócrates
E Platão é meu irmão.
Só que eu “não sei que nada sei”.
a Melina Mercuri
Leio a história do templo
Atena deixou-o vazio,
Sem alma.
Depois do castigo do fogo
A calma.
Mas Atena
Ao Templo voltará
Quando voltar
O que dele foi roubado
Por Mr. Hlgin
Lutaste Melina!
Quem o faz agora?
A Míron, Frídias e Praxíteles
O escultor
Não usou escorpo nem cinzel
Naquela sublime criação.
Deu calor ao corpo da pedra dura
Com o calor do seu próprio corpo.
Abraçou-a.
Com carícias e sopros lânguidos e mornos
Tornou a pedra macia
Dando-lhe as formas que sonhara e sabia.
E com tanta leveza
Que os teus pés não pisam terra ou pedra,
Sustendo-se na espuma das ondas.
Resultou, por fim,
A beleza
Da estátua
Nascida da união da arte e do amor
Na ascese
Da alma do escultor,
A atingir a forma pura…

Colunas de Súnio
A claridade
A flor
O mar
E o vento.
Tudo é força e presente.
Como presentes estão
As colunas de Súnio.
Todos verdadeiros
São.
Mesmo no infortúnio.

Ilha de Egina
Athena Aphaia
Busca o céu
Alto, no alto de Egina.
E daquele alto, o alto
Templo pagão
Contempla
O chão, a oliveira
E o mar.
Imanência divina.
Consentida por Deus.

Em Aegina
A Sophia de Mello Breyner Andersen
Os elmos resplandecem à luz do sol.
Os cavalos levantam a crina.
A cigarra emudece de repente.
Claridade, beleza, vida.
Tudo me lembra Sophia, em Aegina.
Não fora o amor
De Ariadne por Teseu.
Os belos jovens de Atenas
Teriam sucumbido.
Por ser ela cruelmente
Abandonada em Naxos
Buscou a morte, por remédio.
Salva foi pelas Ménades
E pelo belo jovem de tranças de hera
Que por ela nutriu grande paixão:
Dióniso que a amou até à morte.
E a transformou em bela constelação.

Samotrácia
A ilha não tem maior significância,
Se não a maior:
A da Vitória!

Korinto
Da tua Acrópole
Emergiu a voz
Do Mensageiro
Trazendo novas
Doutro Deus
Verdadeiro.
Ruíram colunas e Templos.
E a voz estendeu-se
Pelo mar sereno.
A palavra de Paulus
Ouvida e sentida
- Vestida de amor –
Ecoa agora
Como “Palavra do Senhor”.
E refazem-se as pazes
Entre todos os deuses.
Porque Deus quer.

Hermes
Parado em Olímpia
Longe do teu Monte Cilene
E da tua Arcádia.
A lira que tanto amaste
Trocaste com Zeus.
Se não tinha-la tocado
Ao longo do rio Estige,
Nas viagens de Caronte.
Em Olímpia,
Procuro os cachos de uvas
Que finalmente
Deves a Dióniso.
Saberás onde encontrá-los
Com a tua mágica vara
De tranças de serpente
Que te leva onde queiras.
Todos aguardam Praxíteles
Para completar a tua beleza,
Mutilada, Hermes de Olímpia.

Sonho
Em Skilúndia vi o retrato do vazio
e o silêncio a correr.
E isso me bastou.
Com o cantar próximo da cigarra
Acordo
Para ver o sol a pino.
O aroma da esteva
Penetra e vence a minha indolência.
As pedras douradas
Recebem-me em abertos sorrisos.
As últimas colunas, caídas, submissas,
Observam-me.
São estes o tempo e o espaço
No cimo deste Monte. Skilúndia.
Silêncio.
Silencio também.
Estou agora no meu reino
Enquanto tomo conta do Templo
De Athena.
E aqui permaneço
A levantá-lo
Pedra a pedra, em pensamento,
Enquanto não for o
Tempo do regresso
E o canto da cigarra
Não esconder o sol.

Skilúndia II
Neste lugar, hoje ermo
Sagrado à deusa Atena
Venho
Desta vez só.
Procuro a tartaruga
Que da primeira vez alimentámos
Neste solo que madruga
Sentado
Sobre a pedra onde amámos.
Sinto a tua presença.
As minhas mãos quase o halo prendem
Que se estende em liberdade.
Segue-se o silêncio
Longo
O vazio deambula sobre os alicerces do templo.
Beijo a nossa pedra.
Digo “amo-te”. E parto.
Até sempre, Skilúndia.

Partida da Grécia
De Patra,
Parto da minha antiga Pátria.
De Patra,
Parto para a minha Pátria.
Desta terra
Deste mar
Partiram antes,
Para outros mares,
Para todas as terras,
Os mesmos homens
Das minhas Pátrias.
Para que nascessem

Ítaca ao Entardecer
Um halo lilás
Cobre os cumes
Das longas montanhas.
São reflexos de lírios
Silvestres e macios,
Que as Primaveras
Semearam
E as nuvens sorveram.
O resto és tu
E Odysseus.
Inteiros.

Ítaca
Porque li sobre ti, Ítaca
Vidas que há muito
Sulcaram os teus mares.
Compreendo este uivo dos ventos
A encobrir o canto das sereias,
Sob a inacabada teia de Penélope,
Onde parecem dormir
As mensagens que semeias.
Ato os pensamentos
Aos ferros da proa do barco,
Enquanto as sementes germinam
E os ventos desatinam
Para outro porto,
Onde finalmente embarco.
Passei por ti, Ítaca.
E não pude abraçar-te.