domingo, março 01, 2009

De Leiria partidos em mim presentes

Edição de Folheto Edições & Design
Setembro de 2004

António Cordeiro Gonçalves

maestro, militar


Partida


Voaste através do céu
A pousar nos nimbos macios.
E aqui paraste.

Voaste
Na tua festa
Tantos Amigos
Concerto final.
As notas soltas
A saírem das partituras:
Sinfonia celestial.

O teu concerto.
A tua música.
Na memória gravada.
De memória lembrada.

Eu sei.
Partiste feliz.

Camilo dos Santos Barata

artista, tipógrafo


Gratidão


A pequena pedra lisa, leve e macia
Pouso na tua mão
Adormecida.

Amanhã, uma flor
Leve, macia, fragrante,
Vou colocar na outra mão
Também nua e despida.

São simples homenagens
Sem vestes
De imorredoura gratidão
Pelas rosas que me deste...

Em vida.



Guy Stoffel

maestro, pianista


Música


As partituras voaram ao azul
Cenário celeste, matizado
As notas soltaram-se pelo cosmos
E nasceram estrelas luminosas.
A voar em todas as direcções.

Soltou-se a música
De dentro do teu peito
Não sem antes parar
Por momentos
Nas palmas das tuas mãos.

E da noite se fez dia.
E os pássaros a cantar voaram.
Tudo a comungar,

Numa mágica
E fascinante sinfonia.




José Galamba de Oliveira

cónego, escritor, professor


Eras montanha


Eras uma montanha
Devota

Vestida de rocha milenar
Dura, firme, porém macia,
A apontar o céu.
Havia sido lapidada
Por sopros da tua sensibilidade

E escondia cofres de sabedoria.
Os outros
Os outros
Não conheciam o que sabias...

Mais nada quisera eu
Que as chaves dos teus cofres

Para saber do teu saber
Quer da terra
Quer do céu.




Judite Fialho Barata

professora


Amizade


Hoje, duas lágrimas deslizam
Pela minhas faces contritas
Deixando-me cortinas nos olhos.

Cerro as pálpebras, então.
E vejo claramente
O teu sorriso
E ouço sonora e livre
A tua voz
Amiga. Mil vezes Amiga.

Conversamos muito um com o outro.
Vou cumprir a promessa
Que te fiz:
Marcar um diálogo eterno,
Neste mundo e no outro.

Pelo teu sorriso
E pela tua voz.




Miguel Franco

escritor



Poesia


Tens nas Varandas do Lis
A tua alameda com pombas

Misturadas com pétalas de rosas
Pelo chão,
Deixando penas brancas que voam
Na composição
De poemas
E histórias de homens que lutam
Por justiça e pão
Expiando penas
A que tu na tua pena dás vida.

Porque a vida é feita de dramas
E de poemas
E de pombas
De rosas e de penas de pombas.

Das tuas
Como as tuas
Só tuas.




Pedro João


Meu filho


És Tu o Anjo
Guia imortal
Do meu ser.

Neste dia triste.
De dor.
Arfar descompassado,
Que na morte
Se mostra viver.

Provação tamanha!

Campainhas abri
Passagem pelo mundo.

Levam-te de mim, FILHO!
E não pude lutar.

Não por covardia.
Quantas vezes me daria...

Cem, mil.

Isso te vou mostrar!

Eternamente.

Porquê?

23.III.1974

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